segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Dia chuvoso...

“Dessa forma fica fácil!” dizia ele pra mim, na tentativa de explicar como é que se socializa pela rede. “Você só tem que falar o que querem ouvir..” e assim prosseguia durante o dia todo, mais especificamente o domingo.
Mentir é a maneira mais fácil de conseguir alguma coisa válida, e me pergunto se é mentira, então é válida mesmo? Mesmo sendo um domingo chuvoso como aquele dia, dizer um “eu te amo” pela rede pra conseguir um encontro fácil no shopping; claro se o outro domingo não estiver chovendo; é apelativo? O mais bizarro: as garotas do outro lado acreditam! E tudo mais fica “clichezado”, sentimentos sem importância, “só para colocar mais emoção nos fins de semana”. Sem chuva é claro.
Mas aí vêm as perguntas: e se a coisa toda for verdadeira, se vale mesmo a pena investir, ligar pra ouvir a voz, tiver uma ponta de certeza por traz da tela, das máscaras do photoshop?
Ao contrário do que meu amigo diz; eu apenas digo que não se pode afirmar nada, até sua pele entrar em contato com a certeza. Acreditem quando digo, às vezes, vale a pena deixar de mentir com seriedade e prestar mais a atenção nas verdades que se fala brincando.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Os 33 da fila.

Em uma fila à procura de emprego, nessas agências que editam seu perfil, mais de uma hora em pé com quinze pessoas exatas na minha frente, um rapaz de baixa estatura; reconhecendo aqui já que também sou assim; entra na fila em minha frente. Ou por não dar a mínima para as outras trinta e três pessoas nas suas costas ou por estar acostumado com filas neste país, provavelmente ele não adivinhou que iria causar certo incômodo.
Enquanto eu apostava na calma do número 33 por ser a única coisa que lembrava Cristo naquele momento, o que se seguiu foram palavras indizíveis e digamos, até interessantes de se expressar, se fossem atores em uma filmagem. Os funcionários continuavam com sua rotina enquanto as cordas vocais dos envolvidos na discussão se esforçavam ao máximo. Um cantava soprano.
Mas não é isso que me chamou a atenção; mas a indiferença das outras pessoas. Como se estivessem acostumadas àquela situação. O estresse, a intolerância, a falta de boa fé, o capitalismo na sua mais crua versão. “Cada um por si, burro foi você de não ter levantado cedo pra vir pra fila.”
Enquanto a discussão se estendia pela manhã, uma senhora na sua meia idade mãe de família comentava com uma garota de 18 anos a tragédia no Rio, sobre a solidariedade, paciência, o trabalho heróico dos voluntários. Ambas na fila e ambas sem o ensino médio completo. “ O povo brasileiro é muito unido e humilde né?” uma questionava.
A vaga que me ofereceram foi de consultor de vendas e disseram que meu perfil ajuda afinal além de comunicativo sou paciente. Brasileiro nato?
O fura fila conseguiu uma vaga de entregador e saiu rindo, tranqüilo. Dos outros 33 não sei, mas a mãe de família perdeu a vaga para a garota de 18 anos e nem se cumprimentaram depois.
Meu Brasil brasileiro, terra de encantos mil e não só de 33.