“Não dava nada por aquele dia, quanto mais pela noite. Viagem cansativa, estressante, chuva no vidro do carro fazia mais barulho que minhas músicas. Muitos carros, mas sem buzinas, e já estava tarde quando cheguei lá. E então vem o tema da narrativa.
Ela.
Talvez pelo cansaço de ler, ouvir, deduzir e estereotipar uma garota dos desejos em sonhos ou por procurar erradamente em outras garotas mais erradas ainda aquilo que eu vi e aprendi naquela noite.
Limpa. Ela era limpa. E não é só visualmente no físico. Suas palavras fluíam com naturalidade; nem sempre com certezas, mas naturais.Era limpas pela ousadia de se dizer. Isso era também traduzido nos gestos, muito bem acompanhados pelo meu olhar. Gestos clínicos. Certeiros e bem desenhados.
Leves. Eram leves mas intimidadores.
Não me lembro de conhecer mulheres assim. No básico eram o que viam nas outras. Sejam em modas cotidianas, sejam nos palpites de assuntos fúteis.
Não é crítica. Nem elogio. É um fato narrado rigorosamente à risca.
Extremamente linda tanto nos detalhes defeituosos quanto no conjunto harmonioso que tais defeitos geravam.
E não havia vento para fermentar os cabelos, havia chuva que estrondava em meio ao assunto que se alongava pela madrugada afora.
Não havia submissão nela. Era mulher, e sua auto suficiência em demonstrar o quanto gostava de alguém não abrangia qualquer traço de sujeição. Pelo contrário, me fazia odiar, naquele momento qualquer mulher submissa.
Tive uma aula de beleza feminina com ela.
E de novo, não é um elogio.”